Quem fez a retirada do apêndice corre mais risco de câncer? Uma nova pesquisa sobre as consequências da retirada do apêndice aponta que, ao contrário do que se pensava antigamente, retirar o apêndice pode impactar na flora intestinal e na possibilidade de risco de câncer.

O apêndice é um órgão localizado na parte inferior direita do abdome, ligado ao intestino grosso. Certamente você já ouviu falar nele por causa da apendicite, que é a inflamação do apêndice e que geralmente requer tratamento cirúrgico.

A abordagem mais comum no decorrer dos anos era realizar a remoção do apêndice, nos casos de apendicite. Isso por que o quadro pode evoluir para complicações graves, como necrose e perfurações. Atualmente, temos exames de imagem que permitem uma melhor  avaliação antes de optar pelo tratamento cirúrgico e a retirada do apêndice.

Mas, qual a relação entre a retirada do apêndice e o risco de câncer?

Retirada do apêndice – sempre é a melhor opção?

Muitas pessoas tem a impressão de que a retirada do apêndice sempre é a melhor escolha, mas será que é isso mesmo? Bem, os autores do artigo “Altered gut microbiome composition by appendectomy contributes to colorretal cancer” levantaram a possibilidade de que uma apendicectomia, a retirada do apêndice, aumente os riscos de câncer de cólon.

Neste estudo, os pesquisadores acompanharam, por 20 anos, 129.000 pessoas que retiraram o apêndice. Foi observado que, uma pessoa que fez a retirada do apêndice, tem 73% mais chance de desenvolver um câncer de intestino, e os riscos são maiores nos 2 primeiros anos após a cirurgia de apendicite. Além disso, a população com mais de 50 anos têm o risco de câncer aumentado.

Para aprofundar nessa questão, os pesquisadores estudaram a composição da flora intestinal de dois grupos. Ao total, foram 314 pessoas acompanhadas, metade delas tinha passado pela retirada do apêndice enquanto a outra metade não tinha feito a cirurgia,

Assim, concluíram que a composição da flora intestinal desses dois grupos é diferente. Nas pessoas que já passaram por uma cirurgia de apendicite, observaram o aumento de 11 espécies de bactérias e a diminuição de 14 espécies.

O curioso é que sete dessas 11 espécies de bactérias que aumentaram a população estão associadas ao desenvolvimento do câncer. Por outro lado, no grupo de 14 espécies de bactérias que diminuíram, 5 delas são protetoras, que diminuem o risco de câncer.

Flora intestinal – qual a relação com o risco de câncer?

As bactérias têm material genético e esses genes diversas funções  como codificar proteínas e metabolização de compostos, o que pode ou não aumentar o risco de câncer. Por isso, é comum observar que uma pessoa com câncer de intestino apresenta alteração na flora intestinal.

Para comprovar essa teoria, os pesquisadores fizeram testes com ratos e aqueles que passaram pela retirada de apêndice se tornaram mais propícios ao desenvolvimento de câncer. E quando os ratos eram tratados com antibióticos para matar a flora, o risco era igual nos dois grupos. Dessa forma, no estudo ficou comprovado que quem possui uma flora intestinal mais doente tem mais risco de câncer.

Mas atenção: isso não quer dizer que se você já retirou o apêndice, vai ter câncer de intestino. É só um aumento de risco. E também não deve tomar antibióticos por conta própria. A melhor abordagem ainda é a prevenção, portanto, faça o exame de colonoscopia na idade indicada pelo seu médico e, em caso de dúvidas, não deixe de conversar com ele.