Recentemente, uma influencer relatou que precisou fazer 3 cirurgias na região do ânus. As intervenções foram feitas por causa do abscesso anal e fístula anal

Muitas pessoas ficaram curiosas por causa da quantidade de cirurgias feitas pela influencer, afinal, será que é sempre necessário realizar mais de uma cirurgia de fístula? Quando a cirurgia de fístula é a melhor opção? 

Vou esclarecer essas e outras questões hoje. Vamos lá? 

O que é um abscesso anal e qual sua relação com a fístula anal?

O ânus é repleto de glândulas que produzem secreção para lubrificar a região e ajudar na passagem das fezes. Eventualmente essas glândulas podem ser obstruídas por fezes ou sofrer algum trauma, o que infecciona a região.

Dessa forma, ela não vai drenar corretamente e vai acumular secreção em seu interior e, com o passar do tempo, essa secreção se transforma em pus.

E é isso que caracteriza o abscesso anal – ou abscesso perianal -. Ele se manifesta ao lado do ânus. 

Quanto a fístula anal – ou fístula perianal -, ela é uma comunicação anormal entre o ânus e a região ao seu redor. Geralmente, é formada após o abscesso drenar espontaneamente para que todo o pus em seu interior saísse.

Entretanto, nem sempre ocorre essa drenagem espontânea, o que nos leva ao primeiro caso onde a cirurgia de fístula é indicada. 

A cirurgia de fístula pode ser feita em até três tempos:

1º é feita a drenagem do abscesso.
2º é feita a intervenção na fístula anal. Pode ser necessário drenar o restante do conteúdo ou, em casos de fístulas complexas, é preciso torna-lá uma fístula simples com a colocação de um séton ou sedenho. 
3º é feita a cirurgia de fístula definitiva.

Nem todos os tratamentos de fístula vão precisar passar por esses três passos, mas caso seja necessário, esse é o processo que geralmente é adotado. 

É importante lembrar que não acompanhei o caso da influencer e, por isso, não posso afirmar que o tratamento dela foi feito dessa forma.

1. Drenagem de abscesso anal

Como disse acima, o abscesso anal precisa drenar. Caso isso não ocorra e o pus se acumule, pode ocorrer um caso chamado de Gangrena de Fournier. 

A Gangrena de Fournier pode necrosar os tecidos da região de forma rápida, o que, se não tratado de maneira eficaz, pode levar a morte.

Assim, drenar o abscesso é uma das primeiras possibilidades de cirurgia de fissura anal.

No procedimento de drenagem de abscesso anal, furamos o abscesso anal para que ele drene corretamente e não reste pus em sua cavidade. 

Mesmo quando um abscesso drena sozinho, o ideal é que o paciente ainda passe por uma avaliação médica. Nessa avaliação vamos identificar se ainda há pus no interior do abscesso e, se necessário, terminaremos de esvaziar o conteúdo por completo.

É importante ressaltar que, mesmo que o abscesso drene sozinho em algumas ocasiões, você jamais deve tentar furar o abscesso em casa. Essa tentativa pode contaminar ainda mais a região, piorar a infecção e causar sangramentos. 

2. Cirurgia de fístula – Colocação de Sedenho

A segunda situação em que pode ser necessário realizar uma cirurgia de fístula ocorre quando o abscesso drena sozinho. 

Como expliquei no início do texto, quando o abscesso drena é que ocorre a formação da fístula anal, que é a comunicação entre o ânus e a área próxima a ele.

Entretanto, ao contrário do que pode parecer a primeira vista, a drenagem não resolve o quadro. 

A fístula anal é dolorida, continua drenando pus e, em alguns casos, pode até gerar uma segunda fístula anal. Por isso, realizar a cirurgia de fístula é necessário.

Assim, realizamos a colocação de um séton ou sedenho no interior da fístula para que ela termine de drenar. 

3. Cirurgia de fístula definitiva

Nessa etapa, podemos realizar a cirurgia de fístula definitiva.

Existem diversas abordagens para um tratamento de fístula, podendo ser uma técnica aberta ou minimamente invasiva. 

A escolha do tipo de cirurgia vai variar de acordo com o tratamento que foi feito. Geralmente, se foi preciso realizar o tratamento em 3 tempos, na etapa final, realizamos uma cirurgia menos invasiva, que não abra a fístula. 

Assim, temos a opção de realizar uma cirurgia por vídeo, como o VAAFT, ou utilizar o laser ou mesmo o retalho. 

Espero que vocês tenham entendido a razão para uma cirurgia de fístula precisar, em alguns casos, ser feita mais de uma vez. 

É importante lembrar que nem todos os tratamentos serão feitos em 3 tempos, e que a abordagem médica muda de acordo com as características da fístula anal.

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